segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

"ORFEU E PANDORA", por Isabel Rosete

«No silêncio dos mortos
Escuto a voz do meu Amor jazido,
Em Paz, no seu novo palácio eterno,
Branco, singelo e sublime,
Onde a Saudade mora e se move
Num tempo incontornavelmente infindo.

Aí, está Orfeu, que voltou a olhar
Para trás e a sua amada,
Mais uma vez, perdeu.
Despedaçada a sua Lira,
A Música não mais encontrou
O canto suave e terno do seu natural encanto.
Já nada mais vivifica,
Nem o animado, nem o inanimado.
Pandora não abriu mais a sua caixa
E a Esperança, sufocada, agonizou.
- Até quando?
- Até quando?»

Isabel Rosete


Imagens: 1. "Orpheus and Eurydice", pintura de C. G. Kratzenstein-Stub, 1806 ;
 2. "Pandora", pintura de John William Waterhouse,1896.
"QUANDO A VOZ", por Isabel Rosete
(A Al Jarreau)

«Quando a Voz é todos
Os outros instrumentos, num só;
Quando a Voz é as mãos
E os braços que a prolongam
E dimanam;
Quando a Voz é os dedos
Que a tangem;
Quando a Voz é a boca
E todos os seus movimentos
Por onde sai a alma das palavras;
Quando a Voz é todas as expressões
E todas as rugas não fingidas;
Quando a Voz sai dos poros,
De cada gota de suor
Prazerosamente derramado no canto;
Quando a Voz é o corpo
Que por ela se espraia;
Quando a Voz é a VOZ;
Quando a Voz é o milagre da Música.»

Isabel Rosete