segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Caravaggio, «Amor Victórious», 1602-3, por Isabel Rosete


Caravaggio (1571-1610), pintor italiano, foi um dos expoentes mais destacados da pintura do naturalismo barroco do começo do século XVII. Pintava soberanamente e com a especificidade dos seus traços, sobretudo as diagonais agudas que se entrechocam, louvava a vida que procurava com fúria, insubmissão e a consciência do transitório de tudo no universo.
Essa consciência de que tudo passa, arde e se transforma, nunca o abandonou. Um ser típico da sua época repleta de contrastes, Caravaggio oscilava entre os temas mundanos ou pagãos e o mundo dos anjos e dos santos, de um Cristo humano e pungente, como pode ser visto em “A Ceia em Emaús” ou “A Deposição de Cristo”.
O seu estilo caracteriza-se por um naturalismo quase insolente, voltado contra a tradição idealista do Renascimento italiano, à qual juntou um estranho jogo de claro/escuro a que foi dado o nome de «tenebrismo». Ainda assim, foi um dos mais notáveis e profícuos pintores de cenas bíblicas e mitológicas. O Anjo representado nesta pintura, «Amor Victórious», de asas abertas e em movimento sobre o violino, surge-nos como uma exemplificação da harmonia divina da música, a arte das Musas e dos deuses, que tudo inebria e torna sereno, numa eterna busca de um outro estado de espírito que leva e eleva a humanidade ao enaltecimento da sua interioridade espiritual.

Isabel Rosete

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